sexta-feira, 26 de outubro de 2007

antes do sol se pôr




sigo os trilhos que contornam a cidade, recebido com a natural má disposição do motorista velho gasto pelo tempo. a madeira protesta a cada metro que avança, as pernas ficam encravadas nos acentos que foram feitos para homens que já não se fazem. o motorista descarrega a bílis e dispara calões que se mostram eficazes porque em meio segundo fica a via desbloqueada. casais com a paixão guardada na eternidade que o momento proporciona são ofuscados pelo pôr-do-sol que a descida até ao rio descobre. o rio escorre, controlado pelas margens escavadas e esculpidas de formas arredondadas, em direcção ao mar. não é recebido de braços abertos pela água salgada porque está a ser estancada como se de uma ferida se tratasse. os travões calcinados pela descida, propagam um cheiro intenso e corrosivo mas que não apagam as memórias que aqui jazem. o túnel de árvores esconde do outro lado os morros e as casas encavalitadas como se a má formação fosse uma regra imperiosa. aqui é.



3 comentários:

mar!ana disse...

Deve ter sido mesmo daqueles momentos em que parece que partilhamos um entendimento secreto com o mundo.

O tempo abranda, o mundo abranda e tudo acontece, conometrado ao segundo, como se de uma coreografia se tratasse, feita de propósito para os nossos olhos se demorarem nela.


[Gostei.]

Vânia Monteiro Dias disse...

bela foto!

scavenger disse...

confesso que não é minha :p